
Como não ser Feliciano ou feminista tacanha diante do ENEM?
26/10/2015, 2 Comments
NÃO TENHO nenhuma dúvida que há componente de doutrinação nas narrativas escolares, especialmente as produzidas por quem coloca questões que versam sobre ser contra a violência à mulher.
Mas, em certos níveis do ensino, fundamental e médio, a doutrinação é a regra. A relativização vem depois, um pouco no ensino médio e, depois, na universidade. Por exemplo: ensinamos crianças a ficar na fila, não explicamos a razão, tem de obedecer fila e pronto. Depois, mais tarde, dizemos para elas que há gente importante, bem educada, que no entanto não obedece fila – então ensinamos julgar e avaliar moral e eticamente tais posturas. Mais tarde ainda, ensinamos aos jovens que fila tem razões antropológicas que não precisam ser a regra e não são próprias de todas as sociedade etc.
Assim, no caso da violência, o ensino também é assim. Podemos colocar como lei a frase “em mulher não se bate nem com uma flor”, no ensino básico, para depois, no final do ensino médio e na universidade, mostrarmos filmes, poemas, livros até clássicos onde o espancamento da mulher aparece de toda a maneira. Não entender isso é virar ou uma feminista burra ou virar um Feliciano ou Bolsonaro.
É preciso entender que o ensino é “socialização + individualização”. Primeiro criamos hábitos arraigados, por meio de ensino dogmático, depois vamos desdogmatizando e relativizando tal ensino, de modo que o aluno possa ser crítico e, no entanto, manter dentro da sua criticidade os princípios básicos de sua civilização.
Um jovem não pode ser socializado na universidade. Ali é lugar dele ser crítico, dele relativizar dogmas. Mas, se não aprendeu direito os dogmas de sua sociedade, inclusive que são dogmas (e esse jogo intermediário é feito no ensino médio), ele não entende o processo crítico universitário. Como Bolsonaros, feministas estúpidas e Felicianos não passaram direito por processos corretos de educação, não conseguem entender tal dialética entre socialização e individualização. Não faça como eles, seja melhor.
Paulo Ghiraldelli, 58, filósofo.
PS: Para mais sobre o assunto veja O que você precisa saber em filosofia da educação (DPA), de minha autoria, e que contém um texto de Rorty sobre o assunto no final, traduzido por mim.
Enem: machistas não passarão!!!
Jokas, acho que o lema é “burros, talvez machistas, não passarão”.